O Rio Grande do Sul foi o quinto estado brasileiro com maior número de exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024, segundo levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil). Com US$ 1,8 bilhão, equivalente a 4,5% do total, o RS está atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.
Os seis Estados que mais venderam para os EUA, em 2024, foram:
- São Paulo - US$ 13,5 bilhões (33,6% do total)
- Rio de Janeiro - US$ 7,2 bilhões (17,9%)
- Minas Gerais - US$ 4,6 bilhões (11,4%)
- Espírito Santo - US$ 3,1 bilhões (7,6%)
- Rio Grande do Sul - US$ 1,8 bilhão (4,5%)
- Santa Catarina - US$ 1,7 bilhão (4,3%)
Nessa sexta, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, disse nesta sexta-feira haver uma relação de perdas para ambos os lados no tarifaço estabelecido ao Brasil, de 50% em todos os produtos, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que muitas indústrias do Rio Grande do Sul “vão acabar fechando” caso esta medida continue. Bier justificou a fala dizendo que há companhias em que os EUA representa mais de 95% de sua exportação.
“Temos 200 anos de relações comerciais com os EUA e não podemos perdê-la de uma hora para a outra. Pedimos para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) fazer uma reunião com todas as federações do Brasil, para que possamos mediar esta situação. Acho que os políticos estão radicalizando muito e dificilmente vão se entender. O grande prejudicado é o Brasil, mas é um perde-perde, porque os Estados Unidos também o são, porque precisam de nossa matéria-prima”, afirmou Bier, que esteve em visita ao Correio do Povo.
Já o governador Eduardo Leite disse na quinta-feira, no Palácio Piratini, que o Brasil não pode aceitar interferência de outro país sobre as decisões das instituições brasileiras. Admitiu que as instituições brasileiras são feitas por seres humanos, logo, falíveis, apesar dos muitos acertos que também tem.
Leite destacou a importância do mercado dos EUA para o RS. “O Rio Grande do Sul também têm negócios importantes, que envolvem, principalmente, o tabaco, armas de fogo, celulose, madeira e outros. Vamos acompanhar para ver os efeitos, os impactos e naturalmente as ações possíveis no âmbito local de maneira a garantir competitividade e o menor impacto possível, mas lamento essa tentativa de interferência no nosso país. E ressalto mais uma vez que essa polarização política radicalizada está mais uma vez demonstrando o quanto ela fere os interesses do país”, concluiu.
Impacto no Sudeste
"O Sudeste sofre impacto maior, até porque a indústria está concentrada na região, assim como o PIB brasileiro", afirma Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações e pesquisadora sênior do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais). Diversos dos produtos mais vendidos do Brasil para os EUA têm produção relevante no Sudeste.
A região respondeu em conjunto por mais de 70% das exportações ao país da América do Norte, em 2024, segundo a Amcham. No primeiro semestre deste ano, o Sudeste respondeu por 68% das exportações, que somaram US$ 20 bilhões, um aumento de 4,4%, em relação ao mesmo período do ano passado.
Wachholz, que foi assessora especial do Ministério da Agricultura, lembra que o minério de ferro brasileiro, que abastece as siderúrgicas americanas, são extraídos no Sudeste e no Pará, e o eucalipto tem origem em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Mesmo a carne, com produção difundida pelo País, encontra grande parte de sua origem no Sudeste. Em especial, de bovinos. Os suínos são mais concentrados no Sul do País.
"O principal motivo de preocupação é que a qualidade de exportações brasileiras para os EUA chama atenção. A pauta exportadora para lá seria o sonho se fosse para todo o mundo, com roupas, calçados, aviões, autopeças, motores e produtos com marcas brasileiras, como frutas", afirma Wachholz.
"Se esta situação puder servir de lição para a indústria, é que nunca é bom colocar seus ovos em poucas cestas, e que as empresas devem buscar difundir ao máximo os seus produtos para mais mercados", diz a pesquisadora.
"É possível reavaliar a estratégia de abertura comercial, e isso serve mais para a iniciativa privada do que para governos, porque muitas vezes os acordos internacionais não são concluídos porque não se encontram consensos no setor produtivo. Sempre tem perdedores e vencedores em cada acordo, mas, em geral, podem ajudar a economia como um todo."